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A produção de Paulo Lobo se realiza sob um preciso programa de trabalho. O principal nexo entre seus projetos é o tempo. Há nele uma lentidão própria da pintura. Duração da experiência material e intempestividade da pintura no século XXI são índices da filosofia de Bergson, Deleuze e Nietzsche. O discurso do signo material da pintura, aplicado sobre troncos de madeira, simula ser da fábrica da escultura. O ato pictórico se desloca para a história, para a grandeza dos mitos e a profundidade da memória num arco entre psicanálise e filosofia. Pintar é um fato anatômico que Lobo converte em dos fatos da natureza como tempestades e ventanias. Via essas alusões meteorológicas, o artista infringe agruras do tempo às telas pintadas: expostas ao ar livre por longos meses – elas serão entregues ao sol inclemente, a chuvas copiosas, a ventos. O que se sobra depois de meses são farrapos, dilacerações, vestígios de cores esmaecidas, a aflição de ver – ou Édipo e Jocasta, Sófocles, Foucault, Géricault, Cézanne, Herzog suicídios, naufrágios e cegueira. A pintura de Paulo Lobo é um saber teogônico sobre desejo, incesto, dor, cegueira e morte.
A pintura culta de Lobo abre para discussões políticas e pictóricas com força de educação política para a democracia e o conhecimento aprimorado da arte, entendida como produção de saber específico sobre o sentido da visão. Paulo Lobo é um artista que emprega materiais ortodoxos como a tinta a óleo em sua pintura e heterodoxos como madeiras envelhecidas pintadas em suas picto-esculturas. Esse uso clássico e experimental dos signos materiais da arte amplia as possibilidades de entendimento da expansão da arte contemporânea. Ademais é uma significativa adesão de Lobo à arte como visão materialista. O imaginário de Lobo a ser publicado remete ao universo dos mitos clássicos gregos (Édipo e Jocasta, Michel Foulcault e o saber como poder), a fatos pictóricos e históricos (como a tempestade de Giorgione e A Balsa da Medusa de Géricault, Rodin, grupo Cobra), enforcamento (Tiradentes, Callot e Cézanne, Strange Fruits, a morte por tortura de Wladimir Herzog), entre outros.